sábado, setembro 05, 2009

Elevador, o último refúgio seguro
Ou “a descoberta de um nicho”

“Música de elevador” é, geralmente, o termo utilizado por pessoas preguiçosas e desinteressadas para designar um tipo de música mais lento, de baixa octanagem, por assim dizer. Sem a mínima paciência para tentar apontar os aspectos mínimos que diferenciam o, digamos, Coldplay do Explosions In The Sky, fica bem mais viável para essa galera jogar tudo no mesmo saco e fica tudo certo.

Outra convenção dos dias atuais é a contratação de profissionais (nem sempre) para coordenar a trilha sonora de determinados ambientes que não necessariamente são ligados à música em geral. Em Belo Horizonte, onde eu nasci, conheço pelo menos dois casos de djs da efervescente cena noturna que foram requisitados para colocar música em restaurantes e shoppings, de acordo com suas predileções. Tudo dentro de um requisito mínimo, claro. Se você se sente elogiado pelo convite, você não vai querer soltar o disco novo do Fantomas em um restaurante yuppie.

Entretanto, nós, humanos, ao correr da civilização, fomos nos tornando a mais barulhenta das espécies. Como se não bastasse o tom de voz, ainda construímos um monte de caixas de metais para nos transportar de um lado a outro, que produzem uma miscelânea de sons ensurdecedores. Inventamos o alto-falante. O megafone. O despertador. A Pitty. O Charlie Brown Jr. Os exemplos são múltiplos.



E o mais interessante, é que, caso você não seja um eremita versado na arte da cultura de subsistência, um Christopher McCandless bem sucedido, você não consegue fugir disso. A música ruim e irritante invade o seu lar, alcança o seu trampo, penetra sorrateira pela janela, tão bem-vinda quanto uma bala perdida. Por isso, se faz presente a necessidade de regulamentar a mais digna das profissões: disc-jóquei de elevador.

Você conhece o Brian Eno? Ele é ídolo-mor de qualquer ascensorista. Puxe uma conversa relativa a esse produtor com o responsável pelo elevador do seu prédio. Por mais taciturno que o cara possa ser, ele vai virar seu amigo, do tipo que te chama pro batizado do sobrinho e te apresenta pra mãe.

Entre os artistas que podem compor o seu repertório, temos Brian Eno, Christian Fennesz, Cluster... os exemplos são muitos. Se você pegar firme nessa profissão, não sai mais. O povo pode até não curtir a sua seleção, torcer o nariz e fazer muxoxo, mas também não vão se sentir agredidos como no caso do “pau na buceta” relatado na coluna Celeumas do dia 26/08, presente aqui mesmo, no Bis.

Por falar nisso, vazou ontem (25/08) na internet uma colaboração do indiezão Sparklehorse com o gênio da música ambient, o já citado Fennesz. O disco se chama “In The Fishtank”. Se eu fosse você, não desprezaria essa bolachinha.

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