quarta-feira, setembro 23, 2009

John Lydon vs Johnny Rotten
O primeiro está de volta, o segundo continua adormecido


As referências bibliográficas, virtuais ou impressas, relativas à cultura musical que concentra os anos de 1975 à 1977, ignoram um rapaz chamado John Joseph Lydon. Só se ouve falar de um alter ego sacana e infame, Johnny Rotten, que liderou uma série de ataques verbais à realeza inglesa durante este breve período, além de trazer ao mundo algumas poucas canções nesta banda em que ele se encarregava dos vocais. Apesar de alguns rumores (despeitados, talvez) propagados por gente graúda da música de que ele e seus asseclas do Sex Pistols (sim, o nome era esse mesmo) se tratavam apenas de bonecos teleguiados pela indústria ditadora de comportamentos, esses garotos causaram um barulho cataclísmico durante a breve existência. Um deles até se envolveu em um caso de assassinato ainda mal solucionado, seguido de um suposto suicídio. Toda a balbúrdia detonada por eles deu rebento a apenas um disco de estúdio, devidamente canonizado por listas e mais listas de alguns críticos influentes, enquanto achincalhado por outros, tal como acontece comumente com todas as obras do universo.

John Lydon só veio ao mundo de fato em 1978, e manejando o leme de outro conjunto igualmente esquisito, mas a excentricidade do mesmo se propagava de outra forma. Enquanto um ano antes ele berrava do fundo de seu odioso coração contra a escassez de ocupações formais na ilha britânica, em canções objetivas que mal alcançavam os três minutos, agora ele se apresentava com o Public Image Ltd. Enquanto o Sex Pistols se utilizava daquele rock urgente descrito sabiamente por Legs McNeil e Gillian McCain como Punk Rock, o novo grupo era bem mais abrangente. Lydon ainda se apresentava ao vivo da mesma forma, agarrando-se ao microfone e arregalando os olhos vidrados como se o amanhã fosse algo improvável. Só que a nova banda era bem mais experimental e dissonante e não se furtava em tomar a extrema audácia de iniciar os seus discos com canções de... nove minutos! Essa nova encarnação do cidadão era mesmo muito insólita.

O debut do Public Image saiu em 1978 e se chamava First Issue. Com influência perceptível de grupos de krautrock como o Can, era a prova de que o nosso Joãozinho tinha cartas escondidas na manga, tipo aquele avô seu que te rouba descaradamente no pôquer, debaixo do seu nariz. O disco foi lançado pouco menos que doze meses depois do solitário filhote de estúdio do Sex Pistols. Será que John Lydon nasceu dentro desse tempo? Ou o que as estarrecidas platéias de 1978 viam era o verdadeiro eu do rapaz, suprimido pela vontade incontida de cuspir metaforicamente na cara da rainha?

Os outros dois discos subseqüentes do grupo também conquistaram vendagens razoáveis na Grã-Bretanha, além de algumas resenhas entusiasmadas. O segundo álbum, Metal Box, foi lançado originalmente no formato do título, e homenageado depois por alguns magos da música alternativa, como Steve Albini e seu Big Black. Enquanto os álbuns iam saindo, Lydon ia soltando algumas declarações condizentes com a novíssima sonoridade proposta por ele. Coisas como “se o rock ‘n’ roll me destruir, farei com que ele seja destruído comigo”, concedida à Rolling Stone.


De qualquer forma, dezessete anos depois do término, o PiL está de volta, sim, no longínquo ano de 2009, ao menos para uma turnê. Só o vocalista retorna ao posto, dos membros originais. O guitarrista Keith Levine e o baixista Jah Wobble não constam da nota de retorno. Como é que se chamava mesmo a tour de volta dos Pistols originais, The Filth Lucre?

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