sexta-feira, setembro 25, 2009

Poder cru no sete de novembro
O Planeta Terra sobreviverá a Raw Power?

Os Stooges ainda vivos anunciaram que vão reproduzir, na íntegra, o clássico álbum Raw Power (de 1973), no All Tomorrow’s Parties em Londres, nos dias 2 e 3 de Maio de 2010. Longe de ser mera coincidência, pois a nova formação dos Patetas traz James Williamson, que esteve nas gravação do disco supracitado. Iggy e seus amigos foram confirmados no Planeta Terra 2009, e o boato que permeia a web é que por aqui também irá rolar execução integral da bolacha.

Pouco antes das gravações do álbum em questão, a banda havia sido literalmente expulsa pela Elektra Records, devido ao comportamento desordeiro de seus integrantes e das ridículas vendagens que eles conseguiram. O disco é da época em que Iggy se cansou de Ann Arbor, Detroit e de todo o roqueiro estado de Michigan e se mandou para Londres com Williamson, onde aprontaram altas curtições com o novo melhor amigo de Pop, o onipresente David Bowie. Daí, Raw Power foi o primeiro dos então três lançamentos do grupo a receber uma alcunha diferente, com o nome do cantor atrelado ao nome da banda. “Iggy & The Stooges”, tal como “Velvet Underground & Nico”. Os irmãos Asheton, presentes na cozinha dos dois primeiros álbuns, voltaram, já que Iggy e James não conseguiram nada melhor para substituí-los na ilha. Como o grupo implodiu novamente em 1974 (com Iggy saindo diretamente para a rehab) , para retornar apenas depois de longínquos vinte e nove anos, não é sacrilégio afirmar que o Iguana havia cansado, ao menos por ora, dos seus antigos brothers de Michigan. Mas tudo bem, pois Raw Power já havia sido concebido e se juntado ao auto-intitulado primeiro álbum e a Funhouse, transportando o Stooges ao concorrido panteão de bandas sem discos ruins (antes do contestado The Weirdness, claro).

O disco foi inicialmente produzido e mixado por Iggy e o resultado final foi visto pela gravadora Mainman como uma tremenda merda, do ponto de vista técnico. Apesar de que mãozinha de Bowie na remixagem pudesse despertar alguma desconfiança de que a banda acharia em seu âmago algum espaço para o “Art Rock” do camaleão, a estrutura primária do álbum é a mesma dos anteriores, músicas em forma de míssil, exportadas diretamente dos porões do estado natal. Não há nenhuma doideira excepcional do nível de We Will Fall, um coro fantasmagórico de dez minutos presente no primeiro lançamento dos Patetas. No entanto, há espaço para duas músicas de menor octanagem, Gimme Danger e I Need Somebody. Nenhuma das duas é afetuosa como qualquer uma daquelas canções do Sgt. Peppers, mas inegavelmente são duas solitárias ilhas de razoável sossego em meio à pancadaria que predomina.

As águas do Tâmisa não congelaram o candente coração de Iggy. Só que, na mesma canção em que ele grita que “o seu lindo rostinho está indo pro inferno”, ele se ajoelha com “eu quero me entregar a um amor tão doce”. Mas tudo bem, afinal ele é um rockstar e esse povo sempre foi esquisito por excelência.” A cataclísmica Search And Destroy divaga sobre o Vietnã, assunto tão em voga naquela época como Kanye West e Taylor Swift no presente. O primeiro verso da música (e do álbum) é “Eu sou um leopardo das ruas com um coração cheio de napalm”. Só pra deixar as coisas bem claras.

Raw Power, além de constar em zilhões de listas de melhores de todos os tempos, influenciou uma pá de gente diferente, de Smiths à Guns ‘n Roses. Kurt Cobain declarou certa vez de que se tratava do seu disco preferido. Johnny Marr admite a influência de Gimme Danger em Hand In Glove, sucesso dos Smiths. Já o Guns realizou um belo cover (até para mim, que não gosto deles) da faixa-título em seu álbum de covers, The Spaghetti Incident?. Você deveria ouvir, caso não conheça, assim como deveria ouvir o inusitado cover que Ewan McGregor, ator do escocês Trainspotting, realizou de Gimme Danger em outro de seus filmes, Velvet Goldmine. Youtube neles.

Um comentário:

Paulo Augusto disse...

McGregor regravou Stooges? O que me lembra que ele cantou em Moulin Rouge, o que me lembra que ele interpretou a balada irlandesa The Lass of Aughrim, presente no conto "The Dead," fazendo papel de James Joyce. Ou ele é animado ou só pega rabo de foguete.