domingo, outubro 18, 2009

Dizzee Rascal, o atual dono de Londres

A Região de Bow se situa na região noroeste de Londres e é, obviamente, dominada por torcedores do Arsenal e do Tottenham Hotspurs, os clubes de futebol que protagonizam o maior clássico esportivo da área. Todos os jogos entre ambos envolvem uma graúda dose de porradaria e mal estar, disseminando uma dor de cabeça gigantesca entre os nativos. No entanto, é improvável que algum desses hooligans atendam por uma designação tão sincera quanto rascal (patife, canalha).

Dylan Kwabena Mills recebeu o apelido quando aluno do ensino médio em uma escola pública de Bow, uma das quatro instituições que expulsaram o moleque durante um número igual de anos. Além da periculosidade estudantil inata, Dylan mantinha no currículo algumas habilidades úteis que incluíam puxar carros e sair na mão com professores em geral. Tudo se encaminhava para o previsível fim, que pavimentava o caminho de mais um moleque negro sendo assassinado por versões britânicas do Capital Nascimento.

Numa reviravolta digna de um dos melhores trabalhos de Frank Capra, Dizzee começou a compor utilizando-se de um computador da escola – sendo que música foi a única matéria onde ele conseguiu sobreviver, tendo sido impiedosamente chutado de todas as outras. Sua mãe (que se tornara viúva ainda na infância de Rascal) tratou logo de comprar os outros equipamentos necessários, o que capacitou Dizzee a se tornar um dj amador, ocupação essa tão disseminada e cobiçada na presente década. Aos 16 ele produziu seu primeiro single, o hit independente I Luv U. Na música, estão presentes todos os maneirismos aprendidos por ele em sua curta vida de delinqüência, como a letra que descreve uma garota chantagista que se apóia em uma gravidez indesejada. Essa pequena bolacha serviu para apresentar o estilo pioneiro de Dizzee e seus trutas, que se apresenta com o nome de grime (ritmo popular de Londres, uma mistura de hip-hop, dancehall e drum ‘n’ bass). A partir daí, foram três disquinhos de ouro e uma platina.

Inicialmente ancorada no tal grime, obscuro, cheio de samples com linhas guturais de baixo, a carreira de Dizzee foi se desanuviando tal como a sua mente, digamos assim. As letras mal-humoradas do começo foram dado espaço a um hip-hop mais festeiro, arquitetado por ases da música eletrônica mundial. Algo como o Mantronix de 2009, com uma produção digna de 2009. É aí que entra “Tongue N' Cheek”, álbum lançado no fim de setembro. O abandono das raízes grime do início foi anunciado por ele mesmo. Dizzee agora queria algo mais pop, e recrutou os hypados djs Calvin Harris e Armand Van Helden para produzir o troço. Até tênis baseado no disco saiu!

E o resultado é estupendo. Times, Guardian, NME, Pitchfork (e eu, né?), todo mundo elogiou o disco. A mistura bem dosada de música house, hip-hop e produtores calibrados, tudo isso ajudou a alicerçar um dos melhores lançamentos do ano. E peço desculpas pelo superlativo manjado.

Em menos de um mês desde a liberação oficial do disco e em meio à época onde só doidos compram cds, Rascal já levou uma platina. Três singles do disco alcançaram o primeiro lugar na Inglaterra. Ele emplacou colaborações com figuras tão díspares como Alex Turner, Lily Allen e Chrome. É o novo rei de Londres, ao menos até segunda ordem.

Com exceção de Chillin' wiv da Man Dem e Leisure, r & b’s mais contidos, todas as faixas de Tongue N’ Check podem, tranquilamente, ocupar sets de djs de quase todos os clubes noturnos do planeta. Não importa se você é um rocker preconceituoso ou algum nostálgico que defende a interdição da prática de fazer música. Experimente ouvir Dirtee Cash e Bonkers - onde o jovem Dylan Mills esclarece que ele não é bonkers (doido), mas sim free (livre) - e tente se manter indiferente.

E, mesmo de má vontade, admito que até a faixa produzida pelo famigerado Tiësto, o rei (e culpado pelo vírus ) do trance mundial, é foda. Tenso.

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