Minha intenção com esse blog ridículo é falar de tudo. Ficou estiloso o ETA ali em cima do Messi com o Leandro, né? Pois é. Então, vai lá mais uma desocupação pouco inspirada:
E o emo, ficou pra quem?
Ian Thomas Garner MacKaye é um simpático senhor calvo de 47 anos, completados em abril. Na ativa desde os 17, ele é o responsável por trazer à vida algumas bandas bem respeitadas por um bom número de gente, além da gravadora Dischord Records. Ele formou o Minor Threat, a principal banda hardcore straight edge da história e o Fugazi, que é uma dessas bandas que, mesmo que desconhecidas pelo público em geral (o seu vizinho fã do Nickelback provavelmente não conhece e provavelmente não vai gostar), são defendidas com galhardia ímpar por seus fãs. O Fugazi visitou o Brasil e 1998 e se encontra em hiato desde 2002.
Outra notória criação de MacKaye é o Embrace, quarteto de Washington que existiu durante apenas um (produtivo) ano, entre 1985 e 1986. Apenas um álbum foi lançado pelo grupo, auto-intitulado. Uma das canções do disco se chama Dance of Days, o que instantaneamente ativará em alguns uma conexão instantânea com outro coletivo musical, ainda vivo. Mas isso é assunto para outra hora.
Ian MacKaye levou um tremendo susto em 1986. Ao abrir uma das edições da revista americana Thrasher, especializada em cultura skateboard e que também abre espaço para resenhas musicais, o carequinha boa-praça leu no periódico que o Embrace fazia um som que poderia ser alcunhado de Emocore (Emotional Hardcore). Não só o Embrace, mas também outros grupos conterrâneos e contemporâneos, como o Rites Of Spring (cujo dono, Guy Picciotto, se tornaria um membro do Fugazi) e o Beefeater. Como não poderia deixar de ser, MacKaye se pronunciou em um show, onde dizia que “Emocore é a coisa mais estúpida” que ele já tinha lido e que “Hardcore já era ‘emocional’, pra começar”. O vídeo se encontra no youtube. Corre lá: http://www.youtube.com/watch?v=mbdh0Qm_5A0 .
O Hardcore existe desde o fim da década de 70. Sempre se notabilizou por um som rascante, de pouca duração, uma variação ainda mais intempestiva do Punk Rock. Alguns dos inventores são o Black Flag, o Dead Kennedys, o Bad Brains e o já mencionado Minor Threat. O Black Flag e o Dead Kennedys se caracterizavam pelo humor negro no lirismo. “Olhe o que você fez com os seus braços. [...] Você nunca foi a garota dos sonhos, mas agora você está pior que antes”, berrava Henry Rollins, do Black Flag. Já Jello Biafra, do Kennedys, preferia musicar (ironicamente, of course, confrades) o seu apreço por dar cabo de criancinhas, e que a sua era a próxima. O Minor Threat estendia a bandeira do não uso de drogas. O Discharge e tantas outras se utilizavam de suas composições para se concentrar na expressão de suas convicções políticas. Os tópicos mais afeitos aos sentimentos humanos abordados por gente como o Embrace e o Rites Of Spring, juntando-se ao andamento mais lento e introspectivo das canções e ao termo (emo) de origem nebulosa, foram a deixa para a Thrasher e outras publicações e críticos começarem a bradar sobre o tal “Emocore” aos quatro pontos cardeais, nos anos 80.
A nova nomenclatura, porém, se manteve nos guetos musicais durante um longo tempo. Foi resgatado, sabe-se lá como, exatamente, com a chegada do século XXI. Bandas como Good Charlotte e Dashboard Confessional, que se utilizam da fórmula “pop punk + letras sentimentais” fizeram retornar à baila a denominação usada uma década e meia atrás pela Thrasher. Só que agora o termo não mais se restringia à parte puramente musical da coisa. Se tornou uma extensão de comportamento. “Ser emo” era uma definição tão válida quanto “ser taciturno” ou “ser histérico”. Se você deixava vazar a informação de que tinha vertido algumas lágrimas durante a projeção de Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças, você era emo. Se você tropeçava em público, você era emo. Se você tinha uma mp3 do Simple Plan, você era emo. E fim de conversa. Ao mesmo tempo em que se tornou uma vertente comportamental, o renascimento do nome trouxe consigo toda uma nova forma de vestuário. Franjas, Hello Kitty, acessórios com bolinhas. Era tudo emo.
Canais major de televisão, como a Rede Globo e o SBT, dedicaram matérias caprichadas ao tema, tudo em horário nobre, nada de reprise na madrugada. Rodolfo (aquele que andava com o ET, tão ligados?) chegou mesmo a levar um safanão de um suposto punk, ao se fantasiar de garoto emo para uma reportagem, nos arredores da galeria do rock paulista. Bandas brasileiras que explodiram recentemente, como Fresno e NX Zero, também foram introduzidas no grande e acolhedor saco chamado Emotional Hardcore. No entanto, tanto eles como a nova geração de bandas gringas fugiam/fogem do “rótulo” como lesmas da saleira. Ninguém nunca teve a coragem (?) de tomar pra si a classificação, que rendeu e ainda rende dividendos e mais dividendos de grana preta. De Ian Mackaye a Diego Ferrero, todo mundo fugiu com vigor impressionante do filho inglório.
Por isso, refaço: o emo, produto rentável, ficou pra quem? Morreu incrustado nos cintos de rebite?
Ou está hibernando por mais quinze anos pro “re-retorno” triunfal?
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