sexta-feira, janeiro 22, 2010

O melhor disco anônimo de 2009

Ah, o Southern Rock. Por trás de bandeiras e flâmulas exibindo o orgulho truculento de ser um confederado, estão um bom número de homens sensíveis, que gostam de agregar ao seu rock puramente macho elementos incontestáveis do blues e do country, combinados às letras objetivas que tentam exprimir os anseios e visões de homens simples. Letras que, mesmo dotadas de sensibilidade, deixam bem clara a testosterona em demasia que um homem tipicamente sulista carrega. Como diria o Lynyrd Skynyrd em “Mississipi Kid”, “I was born in Mississipi and I don’t take any stuff from you”.

O Heartless Bastards não tem nenhum troncudo assumindo os vocais e também não é uma banda sulista. O microfone fica a cargo de uma garota, Erika Wennerstrom e a banda é de Ohio, estado localizado bem acima de toda a turma que defendia a escravatura.
Eles são constantemente comparados ao já estabelecido duo de blues-rock Black Keys, e o fato de que a banda só conseguiu um contrato com a ajuda de Patrick Carney (baterista do Black Keys) também ajuda nas referências ao grupo. O fato de a nome da banda (já agressivo por si só) ter sido achado por Erika em uma trívia de boteco também ajuda na aura de “banda de bar” que permeia The Mountain, novo disco da banda de Cincinatti.



O Heartless Bastards chegou a apresentar uma de suas canções (“Out At Sea”) no programa de David Letterman, no começo de 2009. Ainda sim, The Mountain não emplacou em nenhuma lista dos grandes periódicos especializados do mundo. Pode ser um sinal de que o mundo não tem mais paciência com as bandas garageiras. Sou esperançoso e prefiro acreditar em pura e simples lerdeza, mesmo.

Produzido por Mike McCarthy, que costuma trabalhar com os indie rockers do Spoon, The Mountain veio ao mundo em 3 de fevereiro do ano passado. É o primeiro disco sem Mike Lamping no baixo e Kevin Vaughn na bateria, que tocaram no (também) ótimo debut Stairs and Elevators, que já havia sido tremendamente elogiado pela Rolling Stone matriz. A talentosa Wennerstrom conta com um timbre de voz um tanto andrógino. Não o andrógino Brian Molko, um andrógino mais Babe Ruth, digamos. Um timbre absolutamente irresistível e McCarthy parece ter sacado isso. É só ouvir “Wide Awake” e perceber como a voz da moça se sobrepõe com facilidade ao instrumental, também refinadíssimo.


A primeira música, a faixa-título, pode também levar a (hiperbólica, talvez) alcunha de melhor música anônima de 2009. O tom triste mas pungente de Erika versa sobre o quão alto o seu desejo pode ir. Até o cume de montanha, talvez? E o quão baixo ele pode despencar? Tudo isso acompanhado por uma excepcional arranjo sobreposto de guitarras, desembocando em um final instrumental estupendo. A canção seguinte, “Could Be So Happy”, segue a mesma linha melancólica de lirismo, acompanhada apenas por violões desta vez. O rock garageiro dos primeiros discos reaparece com virulência na terceira música, “Early In The Morning”, em pouco mais de dois minutos de objetividade.

O disco continua em nas faixas seguintes em sua jornada de desperança lírica e arranjos primais de rock. Sem frescura, sem teclados, sem solos. Algo como Neil Young, só que com mais Jack Daniels. “Out And Sea”, a já citada canção de trabalho que a banda executou no Late Show, termina com o verso “oh, the current is pulling me out”, demonstrando que ela não é lá uma mulher muito otimista, pelo menos como escriba. Mas tudo bem. O mestre Paulinho da Viola também não é.

A única “idiossincrassia” de The Mountain é o bandolim e o violino que aparecem em Had To Go, a mais longa e experimental do álbum, beirando os 8 minutos. Trata-se de uma balada de amarga despedida e, como acontece na faixa-título, o final da música não conta com vocais. Nem precisa. O Heartless Bastards botou na praça algo muito, muito sério. Espero que eu não tenha sido o único a notar.

quarta-feira, janeiro 20, 2010

Sobre Elvis e o dia 8

Dentre os muitos personagens criados pelo sempre pertinente cineasta americano Jim Jarmusch, o casal de Mystery Train, de 1989, é das mais brilhantes de suas criações. Se trata de um casal de japoneses aficionados pelo rockabilly, vertente do Rock ‘n’ Roll que dominou os anos 50. O rapaz fala muito pouco e quando se dá ao trabalho, credita ao cantor e compositor Carl Perkins os louros maiores do rockabilly.

No entanto, ambos estão em Memphis (um dos berços esplêndidos do Rock), em busca de algum tipo de conexão com outro nativo do sul norte-americano, bem mais proeminente. Afinal, um dos sinônimos de Memphis é Elvis Presley e o jovem casal acaba se tornando mais um acréscimo na extensa multidão, ficcional ou não, que acorda em todo dia 8 de janeiro com recordações vívidas acerca de um certo Rei.

Pode-se dizer que Elvis já nasceu munido de mais obrigações do que a maioria dos seres, pois seu irmão univitelino Jesse nasceu morto, transferindo todas as expectativas para o recém-vindo ao mundo. Um furacão que destruiu a sua cidade natal, East Tuppelo, no ano seguinte (1936), também não é algo aconselhável a acontecer frequentemente na vida de seres ainda imberbes. Para completar a cadeia de desgraça, seu pai, Vernon, foi preso no ano posterior e a família foi despejada. Os ventos de mudança vieram em 1948, quando a família se muda para Memphis, que se tornaria a sede dos primeiros palcos que o jovem Elvis Aaron iria dominar. Suas primeiras canções gravadas surgiram em 1953.

Elvis de cima do trono

Um momento de diversão inocente no estúdio, em 5 de julho de 1954, é considerado por alguns - como produtor musical Sam Phillips, o responsável por lapidar as músicas de Elvis no dia em questão – como o marco inicial do Rock. O cantor havia se empolgado com a composição “That’s All Right Mama”, composta pra ele (e que se tornaria, em breve, um de seus singles) e a cantava de modo improvisado, acelerando o andamento. O episódio é mais um dos candidatos à ponto de partida do Rock ‘n’ Roll, junto com “Rock Around the Clock”, single de Bill Halley & His Comets e as primeiras canções de Fats Domino.

A primeira entrevista viria em breve, junto com os primeiros singles, a maior parte lançada em 1955. Um deles, por um acaso, se chama “Mystery Train” e obeteve boa colocação nos charts da Billboard. O ano de 1956 acabou por transformar o jovem em sensação mundial, um dos primeiros popstars de todos os tempos. O compositor erudito húngaro Franz Lizst é considerado por muitos biógrafos como a primeira estrela pop da história da música, pelo seu visual esbelto (que lhe angariou uma pá de fãs) e o estilo virtuoso, admirado e invejado por todo mundo que o conhecia. Mesmo com todos esses atributos, ele foi batido em relevância e influência pelo rapaz, anteriormente azarado, de East Tuppelo, Mississipi.

Com as tietes, surgiram também um monte de seguidores e detratores, que brotavam em todos os grotões que o cantor pisava. As tietes queriam suas roupas e uns fios do cabelo irretocavelmente cuidado. Os negros queriam sua carne, visto que não entendiam como um branquelo metido a besta podia se meter a cantar um estilo que derivava do rhythm & blues, predominantemente negro. E os reacionários queriam sua língua fora de seu corpo, pois o cantor representava toda a sensualidade incontrolável e perigosa que levava suas filhas (e esposas) ao delírio.

Seu campo de influência multiplicou-se. Algumas de suas apresentações televisivas eram censuradas, devido ao rebolado lascivo, característica de Elvis. Às vezes, as câmeras o focavam apenas da cintura pra cima. Antes de se apresentar ao serviço obrigatório no Exército americano, em 1958, ele ainda realizou quatro filmes, de qualidade francamente questionável. Mas de sucesso cataclísmico, é claro. Seu primeiro disco havia sido lançado dois anos antes do Exército, contendo um cover de Blue Suede Shoes, de Carl Perkins, que acabou ofuscando a própria versão original. O curioso é que o disco teve as cores e o formato das fontes da capa copiadas pelo Clash em seu London Calling, outro grande disco que completou 30 anos no dia 6.

Após a saída do exército, Elvis já não tinha mãe. Isso, combinado à pressão dos managers, facilitou o retorno imediato aos estúdios. Não à toa, seu primeiro disco pós-experiência militar tem o óbvio nome de Elvis is Back! (1960), gravado e vendido às pressas. Elvis se casou pouco depois e a maior parte dessa década foi usada pelo astro para gravar diversos filmes. Porém, seus discos de 1967 e 1969, o gospel How Great Thou Art e From Elvis To Memphis, respectivamente, permanecem como highlights em sua prolífica jornada musical, mesmo que não sejam tão cultuados pelo mundo quanto os singles do início.



A década de 1970 trouxe mais algumas muitas turnês milionárias e mais um tanto de sacolas de dinheiro, como sempre. No entanto, o cantor começou a experimentar um gradativo ganho de peso, que viria a ocasionar múltiplos problemas de saúde, que piorou com o vício em medicamentos. O divórcio veio em 1972, trazendo ainda mais pesar ao já desgatado espírito de Elvis. Suas fotos célebres trajando camisetas extravagantes, costeletas robustas e alguns milhares de quilos a mais datam dessa época. Sua morte veio a se concretizar cinco anos depois, decorrente dos problemas de saúde, de um suposto coquetel de drogas e, bem, da vida típica de rockstar, que costuma matar alguns deles.

Elvis Aaron Presley era uma figura idiossincrática. Não só por seus famosos rebolado e visuais, praticamente inaugurados por ele. Dizia-se que ele enjoou de sua esposa, após a mesma ter dado à luz. Mulheres que já haviam gerado vida se tornavam entediantes para ele. Como a sua música nada tem a ver com isso, continua por aí, se disseminando entre ipods, cds piratas e alguns vinis encarquilhados. Nada disso importa. Goste-se ou não, Elvis é imortal. Sabe como eu sei disso? Porque 8 de janeiro também é aniversário de outro ícone, David Bowie. Só que mais ninguém se lembrou disso, né?

segunda-feira, janeiro 11, 2010

A.C ( Antes de Cristo)

Mel Gibson se tornou um católico muito cedo. O seu nome, inclusive, provém de um santo irlandês. Não é diminutivo para “Melanie” nem nada. O seu segundo nome, Com-Cille, também tem origens na cristandade. Antes mesmo de adentrar os primeiros sets de filmagem de sua vida, Gibson já era, pois, um cristão no sentido exato do termo. O auge de sua devoção ocorreu durante as filmagens e o lançamento de A Paixão de Cristo, película que retrata as provações, físicas e psicológicas, que foram experimentadas por aquele que é o maior símbolo da fé católica, Jesus Cristo, o mais célebre dos proscritos da Terra. O filme não economiza em pancadaria e humilhação e certamente serviu para comover os já convertidos e amolecer o coração de alguns céticos mais impressionáveis.


Busted!

No entanto, ao invés de seguir carreira em uma das muitas probabilidades profissionais oferecidas pelo cristianismo, Mel se tornou um ator. Ator de filmes muito pouco pautados pela fé e moralismo concernentes aos valores morais adotados pela sua religião. Seu primeiro filme é Summer City, de 1977, filme australiano que envolvia surfe e pancadaria em igual proporção. Inicialmente uma produção paupérrima, o filme naturalmente ganhou alguma projeção com o tempo, com a ascensão inegável de Gibson. Summer City se tornou o ponto de partida, a primeira ponta do astro que despontaria.

Em seguida, veio Tim, de 1979. Mas foi com Mad Max, do mesmo ano, que o ator ganhou o entusiasmo e a admiração de gente envolvida com o cinema há mais tempo. Poucos anos mais tarde, foi considerado uma mistura de “Clark Gable com Humphrey Bogart” e “uma versão mais jovem de Steve McQueen”, pelo crítico Vincent Canby, do New York Times, periódico que dispensa qualquer tipo de apresentação. O jovem Gibson, então com 23 anos e um firme olhar compenetrado, concedia a veracidade necessária para o papel em Mad Max, o de um “interceptador”, uma espécie de degrau superior na hierarquia policial. Como podemos conferir logo no início do filme, o “interceptador” era o cara que entrava em ação quando os policiais comuns já haviam sido batidos pela perícia criminosa.

Mad Max é situado em um “futuro não muito distante”, segundo a introdução doo próprio filme. A Austrália se tornou um enorme deserto, repleto de perigos e cobras pra todo lado. A primeira parte apresenta o Night Rider, um bandidão casca-grossa e exímio motorista, sendo perseguido por dois policiais bem mais ineptos que ele. A câmera exibe vários closes de partes do corpo de Max (personagem de Gibson), criando logo no início uma aura de vingador infalível em torno do (anti) herói. Após a malfadada tentativa de captura dos dois primeiros policiais, o interceptador entra em cena, e Mel Gibson toma pra si o cargo de protagonista com relativa facilidade e confiança pouco vistas em um iniciante.

Tremei-vos

A gangue rival rapidamente se descortina como um bando de jovens perdidos e de espírito parvo, exibindo ridículos gestos teatrais e cortes de cabelo anti-convencionais. Mais acontecimentos desagradáveis tomam forma e Max se vê metamorfoseado no Mad (louco) do título. Mel Gibson atua com a postura de um Marlon Brando mais jovem, de ar blasé e objetivo. Trata-se apenas de um homem com uma tarefa a cumprir e que não pretende se perder em firulas para concretizar o intento. Destaque para o Toecutter, o líder da gangue, um tipo tão pomposo quanto letal (interpretado por Hugh Keayes-Byrne) e para a trilha sonora composta pelo famoso guitarrista do Queen, Brian May.

Gibson inicialmente tinha ido à audição do filme apenas acompanhando o seu amigo Steve Bisley, que queria um personagem na produção. Como Mel tinha se envolvido em uma tremenda briga em um bar na noite anterior, seu aspecto ameaçador agradou ao agente de elenco, que disse a ele que o filme “precisava de freaks (aberrações)” e que o ator voltasse depois de suas semanas. Quando ele retornou, suas feridas naturalmente já haviam sumido, mas agora já era tarde pra outra escolha. O papel já era de Gibson.

O Ford Falcon 1974 utilizado pelo “interceptador” Max se tornou um objeto de culto entre cinéfilos e fãs de automobilismo, um fenômeno comparável ao frisson causado pelo Dodge Challenger de outro road movie, Vanishing Point. E o filme conseguiu ser banido na Nova Zelândia e na Suécia, por seu conteúdo “inflamável”, digamos assim.

Posteriormente, além do já mencionado A Paixão de Cristo, Mel Gibson realizou Apocalypto, um projeto grandiloquente, que envolvia atores amadores e o maia como idioma principal. Mas muita gente prefere lembrar do sujeitovestido de couro, com roupas esfarrapadas e o espírito amargo de vingança estampado na testa. Eu sou um deles.

quinta-feira, janeiro 07, 2010

Meus filmes preferidos da década que acabou

Ok, polêmicas bobocas à parte sobre quando começa ou termina a presente década, tão aí meus filmes prediletos dos dez anos compreendidos entre 2000-2009:


20. Public Enemies (Inimigos Públicos, 2009) – Michael Mann



Não há como negar: John Dillinger é bandidão e torpe, mas é uma figura interessante pra caralho. Tommy guns são meus sonho de consumo. Johnny Depp, com a costumeira competência, encarna o gângster na queda, na ascensão e novamente na queda. Claro que não posso deixar de mencionar o nome de Michael Mann, um dos maiores e melhores diretores americanos vivos. Tanto nas cenas de tiroteio contínuo quanto nos olhares (bondosos ou não), Mann está lá, triunfante.


19. Sud Pralad (Mal dos Trópicos, 2004) – Apichatpong Weerasethakul



A primeira parte é razoavelmente linear. Tem até menções ao Clash! A segunda é tremendamente doida, transformando o Apichatkdsjhdskfduyfdgdgd no maior expoente do atual cinema asiático “contemplativo”, digamos assim. Welcome to the jungle, baby.


18. Edifício Master (2002) – Eduardo Coutinho



Só a parte que enfoca aquela mocinha antisocial já valeria o filme todo. Ainda sim, temos uma pá de personagens tremendamente interessantes (e reais, pelo menos na frente das câmeras), de todos as classes e profissões (todas MESMO, risos). Vi na aula de sociologia. Quem disse que faculdade é ruim?


17. Kairo (Pulse em inglês, 2001) – Kiyoshi Kurosawa



Fácil, fácil, o filme mais assustador dessa década. Um filme ancorado em sombras, sombras que existem unicamente para o mal. Kurosawa Jr. deve ser um tremendo fã do Expressionismo Alemão.


16. Bakjwi (Thirst em inglês, 2009) – Chan-Wook Park



Ok, a moda agora é filme de vampirinho, né? Tá bom. Mas e quando o vampiro é um... padre? Chan-Wook consegue a proeza de bater o seu (também excelente) OldBoy.


15. Falsa Loura (2008) – Carlos Reichenbach



Tem Kauã Reymond, Leo Aquila, Maurício Mattar... Who cares? Kauã interpreta Kauã, Leo interpreta Leo e Mattar interpreta Mattar. No meio disso tudo, ainda tem uma operária (gostosa, oi) dando duro na vida, às vezes se fodendo, às vezes pagando de diva. Tremendo final, by the way.


14. Flag Of Our Fathers (A Conquista da Honra, 2006) – Clint Eastwood



Clintão sabe fazer tudo, já notaram? De pistoleiro blasé ao diretor passional das recentes décadas, ele sabe tudo e quando quer. Provavelmente a figura cinematográfica mais cool (argh) ainda viva.


13. Superbad (2007) – Greg Mottola



O que dizer sobre esse, que todo mundo já viu? Michael Cera e Johan Hill incorporam com perfeição (e nem parece que Jonah, de fato, tem alguns anos a mais que a idade demandada pra quem tá terminando o colegial) os nerds que finalmente são convidados para uma festa de gostosas, junto com o não-tão-amigo-assim Fogell, o famigerado McLovin. Diálogos sensacionais e referências a diretores e passagens clássicas do cinema.


12. Laitakaupungin Valot (Luzes no Crepúsculo, 2006) – Aki Kaurismäki



Kaurismäki é enfant terrible da Finlândia. Na maioria de seus filmes, a galera quer se mandar de lá imediatamente. Nesse, um loser solitário (e aparentemente conformado) se vê envolvido em diversas confusões e trambiques com uma mulher de reputação duvidosa e um comerciante nebuloso. Fortemente indicado pra quem curte Jim Jarmusch.


11. La Pianiste (A Professora de Piano, 2001) – Michael Haneke



Haneke é patologicamente doido, com absoluta certeza. Isso posto, e com a ajuda da sempre necessária Isabelle Huppert, as coisas sempre ficam mais fáceis. Ela interpreta uma professora de piano (duh) que tem a vida ligeiramente modificada com a chegada de um novo aluno. Quando eu falo em “coisas fáceis”, me refiro somente a Haneke e a Huppert, porque o filme passa longe de ser tranquilo e termina com mais um dos finais muito doidos que Haneke usualmente concebe.


10. Gosford Park (Assassinato em Gosford Park, 2001) – Robert Altman



Um dos réquiens de primeira do velho, chutando toda a merda que ele conseguiu empilhar com Dr. T e as Suas Mulheres. É sério, galera, parem de fazer filme com o Richard Gere.


9. Fong Juk (Exilados, 2006) – Johnnie To



Bom, me interesso bastante por redes criminosas. Johnnie To também, com suas inúmeras referências à máfia chinesa, conhecida como Tríade. Irretocável filme policial, Fong Juk discorre sobre mafiosos, suas tretas, suas aspirações e suas amizades. Se é que dá pra fazer amiguinhos na máfia, né?


8. Shi Gan (O Amor Contra A Passagem do Tempo, 2006) – Kim Ki-Duk



Ki-Duk é odiado pela crítica coreana, sabe-se lá porque. Talvez porque ele disse que o cinema do país estava se americanizando demais e zombou do megasucesso do ótimo The Host (O Hospedeiro)... Como nada disso importa, a falsa frieza de Time é mais uma joia da narrativa não linear. Contém uma pá de cenas de cirurgia, não recomendáveis para fracotes.



7. A History Of Violence (Marcas da Violência, 2005) – David Cronenberg




Viggo Mortensen renasceu para o cinema após os zilhões de dinheiros que ele faturou encarnando o destemido Aragorn. Aqui ele não é tão passional, no papel de um pacato pai de família que se vê obrigado a revelar suas, ahn, habilidades escondidas. Cronenberg resolveu fazer um filme "entendível", pra variar.


6. Salinui Chueok (Memórias de um Assassino, 2003) – Bong Joon-Ho



Eu não sei exatamente como se porta a polícia coreana, mas tanto nesse como no recente The Chaser, os detetives são mostrados como gente extremamente cabeçuda e obstinada, disposta a encher qualquer um de porrada por muito pouco. Principalmente quando um detetive de Seoul, a capital cosmopolita, aparece para embaçar o esquema... No entanto, o filme é tenso e nem tudo recebe uma solução simplista.


5. Ne Touchez Pas La Hache (Não Toque no Machado, 2007) – Jacques Rivette



Como os outros franceses, Rivette não se mostra envergonhado em desfilar sua visão única sobre o amor. E o que vem com ele. Os olhares e gestos dessa película, que dizem tudo, são a cereja do bolo desse injustiçado clássico da presente década. Adaptação de outro mestre, Honoré de Balzac.


4. Coeurs (Medos Privados em Lugares Públicos, 2006) - Alan Resnais



Tal como o compatriota Rivette, Alan Resnais está vivo e chutando. Seja na recatada secretária que não é tão recatada assim, na moça desperada por um namorado, o velhote segue desfilando seu conhecimento sobre a alma humana com tanta excelência quanto a mostrada no clássico e seminal Hiroshima Mon Amour.


3. Inglorious Basterds (Bastardos Inglórios, 2009) – Quentin Tarantino



Brad Pitt nasceu em Oklahoma, célebre celeiro redneck. Então, um sotaque hillbilly não é exatamente uma novidade para ele. O primeiro grande filme de Quentin, Cães de Aluguel, se pauta pela excelência dos diálogos. Em Inglorious Basterds, os momentos de silêncio são os mais interessantes. Pra quem quiser tirar a prova, o silêncio do fazendeiro frente ao interrogador nazi “diz” tudo.


2. The Man Who Wasn’t There (O Homem Que Não Estava Lá, 2001) – Coen Brothers



The brothers go noir again. O ex-marido da Angelina nunca rendeu tanto. E claro, um quase boquete da Scarlett Johansson sempre melhora as coisas.



1. Before The Devil Knows You’re Dead (Antes Que o Diabo Saiba Que Você Está Morto, 2007) – Sidney Lumet




Provavelmente o thriller mais denso dessa década. Um colosso que vale como síntese de toda a carreira do mestre Lumet. A gente até esquece que ele fez um filme com o Vin Diesel...
E, pelo amor de Deus, MARISA TOMEI, CAIA NA MINHA CAMA!

terça-feira, janeiro 05, 2010

Guns ‘n’ Roses e até onde vai o seu amor

O grupo californiano de rock P.O.D. (que significa Payable On Death, a quem possa interessar) acaba de garantir mais um combo de apresentações na Pátria Amada. Serão sete shows, cada um em um estado diferente, em março de 2010. A maior peculiaridade da banda é o fato de ela ser cristã. O P.O.D. angariou diversos fãs - além de adeptos fanáticos do cristianismo que fingem curtir tudo relacionado à essa religião, sejamos justos - a mais com o disco Satellite, que continha os hits new metaleiros “Alive” e “Youth Of The Nation”, essa última um guilty pleasure do cidadão que vocês escreve. Os discos subsequentes não se mantiveram nos primeiros postos das diversas Billboard da vida, mas o contingente fiel de fãs se manteve. Será a segunda vinda ao país em menos de 2 anos (a primeira foi em novembro de 2008), o que prova que alguém por aqui realmente os ama.

Tamanho amor deve se reproduzir em igual tamanho no mesmo março de 2010. O Guns ‘n’ Roses, do sempre imprevisível (e, às vezes, doido) Axl Rose, também comparecerá ao país, para cinco shows, um número exorbitante para banda de tal porte. Axl é responsável pela proeza de manter o seu carisma intacto entre seus admiradores, mesmo tendo enrolado os seus (muitos) fãs durante 15 anos, data de lançamento do último registro da banda. Que ainda assim era um disco de covers, The Spaghetti Inccident?.

Entre as muitas e bizarras justificativas de adiamento do disco inédito, uma delas era a de que Rose estaria interessado em literatura inglesa e sem tempo para compor e gravar um álbum. Os brothers de outrora, Slash, Duff, Izzy Stradlin, Matt Sorum e Steven Adler não se encontram mais na banda, que se tornou uma empresa louca chefiada somente pelo vocalista. Já passaram por ela cerca de 15 integrantes. Anteriormente uma autêntica banda de rock, o Guns se tornou uma mescla de Hard Rock com barulhinhos eletrônicos aleatórios, um sub-Ministry de Los Angeles. Chinese Democracy, o enfim lançado novo álbum, obteve boas resenhas, no entanto. E Axl pode descer o braço em alguns paparazzi, sem muito remorso.


Axl, fantasiado de Mike Muir


Enquanto isso, alguns dos antigos trutas (Slash, Duff e Matt) montaram em 2002 uma banda chamada Velvet Revolver, que lançou dois álbuns, com alguns hits em escala mundial. O conjunto se encontra em hiato desde 2008, com a saída do ultraproblemático, embora talentoso, vocalista Scott Weiland, ex-Stone Temple Pilots. Duff também esteve recentemente no Brasil, com sua banda Loaded, inclusive tocando algumas versões de clássicos do Guns, como “It’s So Easy”, do influente álbum Appetite For Destruction, provando que a sombra do Guns ‘n’ Roses ainda dá conforto aos seus ex-membros.

Para quem não lembra, o Guns havia retornado ao Brasil em 2001, com um pitoresco espetáculo na terceira edição do Rock in Rio. Um Axl de voz reduzida comandou um bando de asseclas esquisitos, entre eles Buckethead (guitarrista virtuoso que se notabiliza por usar um balde de uma empresa de frangos fritos, a KFC) e Robin Finck, do Nine Inch Nails, que chocou a plateia presente com uma versão (bem-humorada, ao menos) de “Sossego”, do síndico Tim Maia. Para encerrar a singular apresentação, uma escola de samba recebeu a missão de fechar o negócio, antes do bis. É preciso muito, mas MUITO amor pra ver isso tudo de novo, né?