terça-feira, setembro 29, 2009

Imagem do ano
















Leandro Almeida marcando Messi

sexta-feira, setembro 25, 2009

Poder cru no sete de novembro
O Planeta Terra sobreviverá a Raw Power?

Os Stooges ainda vivos anunciaram que vão reproduzir, na íntegra, o clássico álbum Raw Power (de 1973), no All Tomorrow’s Parties em Londres, nos dias 2 e 3 de Maio de 2010. Longe de ser mera coincidência, pois a nova formação dos Patetas traz James Williamson, que esteve nas gravação do disco supracitado. Iggy e seus amigos foram confirmados no Planeta Terra 2009, e o boato que permeia a web é que por aqui também irá rolar execução integral da bolacha.

Pouco antes das gravações do álbum em questão, a banda havia sido literalmente expulsa pela Elektra Records, devido ao comportamento desordeiro de seus integrantes e das ridículas vendagens que eles conseguiram. O disco é da época em que Iggy se cansou de Ann Arbor, Detroit e de todo o roqueiro estado de Michigan e se mandou para Londres com Williamson, onde aprontaram altas curtições com o novo melhor amigo de Pop, o onipresente David Bowie. Daí, Raw Power foi o primeiro dos então três lançamentos do grupo a receber uma alcunha diferente, com o nome do cantor atrelado ao nome da banda. “Iggy & The Stooges”, tal como “Velvet Underground & Nico”. Os irmãos Asheton, presentes na cozinha dos dois primeiros álbuns, voltaram, já que Iggy e James não conseguiram nada melhor para substituí-los na ilha. Como o grupo implodiu novamente em 1974 (com Iggy saindo diretamente para a rehab) , para retornar apenas depois de longínquos vinte e nove anos, não é sacrilégio afirmar que o Iguana havia cansado, ao menos por ora, dos seus antigos brothers de Michigan. Mas tudo bem, pois Raw Power já havia sido concebido e se juntado ao auto-intitulado primeiro álbum e a Funhouse, transportando o Stooges ao concorrido panteão de bandas sem discos ruins (antes do contestado The Weirdness, claro).

O disco foi inicialmente produzido e mixado por Iggy e o resultado final foi visto pela gravadora Mainman como uma tremenda merda, do ponto de vista técnico. Apesar de que mãozinha de Bowie na remixagem pudesse despertar alguma desconfiança de que a banda acharia em seu âmago algum espaço para o “Art Rock” do camaleão, a estrutura primária do álbum é a mesma dos anteriores, músicas em forma de míssil, exportadas diretamente dos porões do estado natal. Não há nenhuma doideira excepcional do nível de We Will Fall, um coro fantasmagórico de dez minutos presente no primeiro lançamento dos Patetas. No entanto, há espaço para duas músicas de menor octanagem, Gimme Danger e I Need Somebody. Nenhuma das duas é afetuosa como qualquer uma daquelas canções do Sgt. Peppers, mas inegavelmente são duas solitárias ilhas de razoável sossego em meio à pancadaria que predomina.

As águas do Tâmisa não congelaram o candente coração de Iggy. Só que, na mesma canção em que ele grita que “o seu lindo rostinho está indo pro inferno”, ele se ajoelha com “eu quero me entregar a um amor tão doce”. Mas tudo bem, afinal ele é um rockstar e esse povo sempre foi esquisito por excelência.” A cataclísmica Search And Destroy divaga sobre o Vietnã, assunto tão em voga naquela época como Kanye West e Taylor Swift no presente. O primeiro verso da música (e do álbum) é “Eu sou um leopardo das ruas com um coração cheio de napalm”. Só pra deixar as coisas bem claras.

Raw Power, além de constar em zilhões de listas de melhores de todos os tempos, influenciou uma pá de gente diferente, de Smiths à Guns ‘n Roses. Kurt Cobain declarou certa vez de que se tratava do seu disco preferido. Johnny Marr admite a influência de Gimme Danger em Hand In Glove, sucesso dos Smiths. Já o Guns realizou um belo cover (até para mim, que não gosto deles) da faixa-título em seu álbum de covers, The Spaghetti Incident?. Você deveria ouvir, caso não conheça, assim como deveria ouvir o inusitado cover que Ewan McGregor, ator do escocês Trainspotting, realizou de Gimme Danger em outro de seus filmes, Velvet Goldmine. Youtube neles.

quarta-feira, setembro 23, 2009

John Lydon vs Johnny Rotten
O primeiro está de volta, o segundo continua adormecido


As referências bibliográficas, virtuais ou impressas, relativas à cultura musical que concentra os anos de 1975 à 1977, ignoram um rapaz chamado John Joseph Lydon. Só se ouve falar de um alter ego sacana e infame, Johnny Rotten, que liderou uma série de ataques verbais à realeza inglesa durante este breve período, além de trazer ao mundo algumas poucas canções nesta banda em que ele se encarregava dos vocais. Apesar de alguns rumores (despeitados, talvez) propagados por gente graúda da música de que ele e seus asseclas do Sex Pistols (sim, o nome era esse mesmo) se tratavam apenas de bonecos teleguiados pela indústria ditadora de comportamentos, esses garotos causaram um barulho cataclísmico durante a breve existência. Um deles até se envolveu em um caso de assassinato ainda mal solucionado, seguido de um suposto suicídio. Toda a balbúrdia detonada por eles deu rebento a apenas um disco de estúdio, devidamente canonizado por listas e mais listas de alguns críticos influentes, enquanto achincalhado por outros, tal como acontece comumente com todas as obras do universo.

John Lydon só veio ao mundo de fato em 1978, e manejando o leme de outro conjunto igualmente esquisito, mas a excentricidade do mesmo se propagava de outra forma. Enquanto um ano antes ele berrava do fundo de seu odioso coração contra a escassez de ocupações formais na ilha britânica, em canções objetivas que mal alcançavam os três minutos, agora ele se apresentava com o Public Image Ltd. Enquanto o Sex Pistols se utilizava daquele rock urgente descrito sabiamente por Legs McNeil e Gillian McCain como Punk Rock, o novo grupo era bem mais abrangente. Lydon ainda se apresentava ao vivo da mesma forma, agarrando-se ao microfone e arregalando os olhos vidrados como se o amanhã fosse algo improvável. Só que a nova banda era bem mais experimental e dissonante e não se furtava em tomar a extrema audácia de iniciar os seus discos com canções de... nove minutos! Essa nova encarnação do cidadão era mesmo muito insólita.

O debut do Public Image saiu em 1978 e se chamava First Issue. Com influência perceptível de grupos de krautrock como o Can, era a prova de que o nosso Joãozinho tinha cartas escondidas na manga, tipo aquele avô seu que te rouba descaradamente no pôquer, debaixo do seu nariz. O disco foi lançado pouco menos que doze meses depois do solitário filhote de estúdio do Sex Pistols. Será que John Lydon nasceu dentro desse tempo? Ou o que as estarrecidas platéias de 1978 viam era o verdadeiro eu do rapaz, suprimido pela vontade incontida de cuspir metaforicamente na cara da rainha?

Os outros dois discos subseqüentes do grupo também conquistaram vendagens razoáveis na Grã-Bretanha, além de algumas resenhas entusiasmadas. O segundo álbum, Metal Box, foi lançado originalmente no formato do título, e homenageado depois por alguns magos da música alternativa, como Steve Albini e seu Big Black. Enquanto os álbuns iam saindo, Lydon ia soltando algumas declarações condizentes com a novíssima sonoridade proposta por ele. Coisas como “se o rock ‘n’ roll me destruir, farei com que ele seja destruído comigo”, concedida à Rolling Stone.


De qualquer forma, dezessete anos depois do término, o PiL está de volta, sim, no longínquo ano de 2009, ao menos para uma turnê. Só o vocalista retorna ao posto, dos membros originais. O guitarrista Keith Levine e o baixista Jah Wobble não constam da nota de retorno. Como é que se chamava mesmo a tour de volta dos Pistols originais, The Filth Lucre?

segunda-feira, setembro 21, 2009

Gladiadores tupiniquins
Agnaldo Timóteo e Valesca Popozuda travam épico encontro

O espetáculo musical mais dantesco sediado em terra brasilis no presente ano de 2009 já ocorreu. Ainda faltam pouco mais de três meses para o ano alcançar o seu fim. Mas, por mais que Mike Patton cuspa fogo ou que Thurston Moore e Bobby Gillespie possivelmente se reúnam em uma jam movida a visíveis cartelas de ácido em dois dos festivais que irão movimentar o país mais carismático das Américas, nada poderá suplantar o espetáculo ocorrido em uma (inicialmente) tranqüila e anódina segunda-feira.

Geraldo Luís é um apresentador paulista, que se destacou na sucursal da Record de seu estado, apresentando o telejornal Balanço Geral SP. Devido às boas qualificações televisivas do rapaz - isso não significa sex appeal, mas sim interação, descontração, know-how no trato com o público -, foi convidado a atuar na matriz, comandando um programa transmitido para todo o território nacional, chamado Geraldo Brasil. A atração vai ao ar nos fins de tarde da Record, a partir das 16 horas, o que lhe dá algum tempo para bater de frente com colossos do elenco televisivo brasileiro, como Márcia Goldschmidt, da Bandeirantes, por exemplo. Ou seja: não tinha como Geraldo Brasil prestar, não é? É.

Na mais recente segunda-feira, dia 21/09, Geraldo Luís recebeu o veterano cantor Agnaldo Timóteo e a funkeira Valesca Popuzuda. A garota já estampou toda a sua voluptuosidade na Playboy e chefia o coletivo Gaiola das Popozudas, bastante requisitado em eventos funkeiros do país. Timóteo se trajava em seu costumeiro estilo elegante, que o levou a ser um dos grandes galãs da música romântica, rivalizando diretamente com o ícone Wando, o colecionador de calcinhas. Já a loira usava um vestido excepcional (!) que deixava à mostra toda a parte traseira de suas coxas, por assim dizer.

O pretexto para a realização de escalação tão insólita era um debate sobre a exploração do corpo na composição de música ou em trabalhos em geral. Geraldo Luis começou introduzindo os convidados, reproduzindo suas piadinhas ensaiadas de praxe, como manda o teleprompter. O problema é que, poucos minutos depois, os banquinhos providenciados para servirem de assento para os convidados foram prontamente esquecidos, tamanha a quantidade anormal de faíscas que saía dos lábios de cada um. O apresentador, que normalmente é um ótimo frontman e se caracteriza justamente pela verve bonachona, se resignou a apoiar-se em uma mesinha próxima, deixando que os dois respeitáveis expoentes da música nacional se digladiassem em perfeita paz.

Agnaldo não parecia nem um pouco hipnotizado pelo vestuário da jovem, ao contrário do resto dos espectadores e platéia presente, e com veemência demonstrada apenas em seus melhores concertos, atacava o estilo de vida e de arte proliferada pela Popozuda. Chegou mesmo a afirmar que o talento dela deveria ser “limitado apenas ao quarto”. Já a moça, totalmente à vontade com o clima vulcânico que a atração tomou para si, retrucava que era apenas mais um das abnegadas moças de família que contribuem para a firmeza cultural do país.

Tudo isso intercalado por algumas reportagens lascivas-informativas sobre o funk carioca, onde dançarinas esculturais se remexiam ao som do filhote brasileiro do miami bass.

E as três perguntas que agora pairam são: o que acontece quando os gêneros populares começam a brigar entre si? Isso é bom ou ruim?

E essa treta já tá no youtube?

quarta-feira, setembro 16, 2009

O conceito tem que continuar
(Doherty procura substitutos)

Pete Doherty não está resfriado, como começaria Gay Talese, mas anda desaparecido. As sarjetas não mais têm servido de abrigo quente e macio para o rapaz. Pelo menos de modo oficial, sabe-se que a sua última estadia forçada em uma dessas rehabs da moda foi em 2008. Desde então, os holofotes não mais capturaram Pete em uma das suas conhecidas viagens, ahn, internas. Nem a recente reunião do seu former group em maio, o Libertines, serviu para retirar o garoto do triste limbo dos rockstars com validade pré-definida. Ainda sim, ele é, provavelmente, a figura roqueira mais famosa projetada na atual década.

Ele é o roqueiro de nossa década. Todo mundo sabe que Thom Yorke é muito talentoso e etc, mas Thom sempre foi o rapaz de blusa de lã. Com seu figurino impecavelmente delineado (sempre), suas camisetas cuidadosamente perfuradas (herança de Sid Vicious, outra figura que também sabia se trajar) e o sempre providencial cigarrinho pela metade ocupando um dos cantos da boca, o ex-Libertines e atual Babyshamles se tornou um instantâneo sucesso entre a rapaziada dos blogs “rockers” e da proeminente cena alternativa do momento. Sua banda exercia o direito de chupinhar, com devidas restrições e algum talento, o som pioneiro dos grandes Clash e Jam. Mas, diferentemente dos rapazes presentes em seus pôsteres, Doherty nunca teve um London Calling ou um In The City para se ancorar, naquela velha filosofia do “sou drogado e beberrão, mas prolífico”.

Pete lançou dois álbuns com o Libertines, um em 2002 e um em 2004. O primeiro chegou ao 13º lugar da parada americana. Apenas o segundo alcançou o Top 5, estacionando em 4º naquela que é a corrida fonográfica que realmente importa caso você queira enriquecer, a estadunidense. Nenhum dos dois discos, contudo, serviu para alçar Doherty ou o seu parceiro Carl Barât à condição de ícones roqueiros. Barât, inclusive, é bem mais contido que o vocalista. O que alçou Doherty à condição de ícone da década (com grande ajuda do mundo virtual) foram as suas seguidas imposturas visuais. O garoto nunca deixou de fornecer oportunidades de ser fotografado em estados francamente lamentáveis, deixando pulular bem à vista à sua condição de adicto. Ou seja: os roqueiros de hoje não se notabilizam pelas gravações (ou você acha que Can’t Stand Me Now é um baluarte roqueiro?), mas sim pelo apreço à sarjeta e às bebedeiras televisionadas.

Os já mencionados Clash e Jam tinham ao menos meia dúzia de lançamentos em comum e são lembrados por tal. Kurt Cobain, apesar de algumas confusões, entorpecentes e súbitas aparições de cabelos avermelhados, tinha na manga um Nevermind, parte insubstituível daquela gama seleta de discos que sacudiram suas épocas.

Já o Pete... bem, o Pete se veste bem pra caralho.

sábado, setembro 05, 2009

Elevador, o último refúgio seguro
Ou “a descoberta de um nicho”

“Música de elevador” é, geralmente, o termo utilizado por pessoas preguiçosas e desinteressadas para designar um tipo de música mais lento, de baixa octanagem, por assim dizer. Sem a mínima paciência para tentar apontar os aspectos mínimos que diferenciam o, digamos, Coldplay do Explosions In The Sky, fica bem mais viável para essa galera jogar tudo no mesmo saco e fica tudo certo.

Outra convenção dos dias atuais é a contratação de profissionais (nem sempre) para coordenar a trilha sonora de determinados ambientes que não necessariamente são ligados à música em geral. Em Belo Horizonte, onde eu nasci, conheço pelo menos dois casos de djs da efervescente cena noturna que foram requisitados para colocar música em restaurantes e shoppings, de acordo com suas predileções. Tudo dentro de um requisito mínimo, claro. Se você se sente elogiado pelo convite, você não vai querer soltar o disco novo do Fantomas em um restaurante yuppie.

Entretanto, nós, humanos, ao correr da civilização, fomos nos tornando a mais barulhenta das espécies. Como se não bastasse o tom de voz, ainda construímos um monte de caixas de metais para nos transportar de um lado a outro, que produzem uma miscelânea de sons ensurdecedores. Inventamos o alto-falante. O megafone. O despertador. A Pitty. O Charlie Brown Jr. Os exemplos são múltiplos.



E o mais interessante, é que, caso você não seja um eremita versado na arte da cultura de subsistência, um Christopher McCandless bem sucedido, você não consegue fugir disso. A música ruim e irritante invade o seu lar, alcança o seu trampo, penetra sorrateira pela janela, tão bem-vinda quanto uma bala perdida. Por isso, se faz presente a necessidade de regulamentar a mais digna das profissões: disc-jóquei de elevador.

Você conhece o Brian Eno? Ele é ídolo-mor de qualquer ascensorista. Puxe uma conversa relativa a esse produtor com o responsável pelo elevador do seu prédio. Por mais taciturno que o cara possa ser, ele vai virar seu amigo, do tipo que te chama pro batizado do sobrinho e te apresenta pra mãe.

Entre os artistas que podem compor o seu repertório, temos Brian Eno, Christian Fennesz, Cluster... os exemplos são muitos. Se você pegar firme nessa profissão, não sai mais. O povo pode até não curtir a sua seleção, torcer o nariz e fazer muxoxo, mas também não vão se sentir agredidos como no caso do “pau na buceta” relatado na coluna Celeumas do dia 26/08, presente aqui mesmo, no Bis.

Por falar nisso, vazou ontem (25/08) na internet uma colaboração do indiezão Sparklehorse com o gênio da música ambient, o já citado Fennesz. O disco se chama “In The Fishtank”. Se eu fosse você, não desprezaria essa bolachinha.