quarta-feira, setembro 16, 2009

O conceito tem que continuar
(Doherty procura substitutos)

Pete Doherty não está resfriado, como começaria Gay Talese, mas anda desaparecido. As sarjetas não mais têm servido de abrigo quente e macio para o rapaz. Pelo menos de modo oficial, sabe-se que a sua última estadia forçada em uma dessas rehabs da moda foi em 2008. Desde então, os holofotes não mais capturaram Pete em uma das suas conhecidas viagens, ahn, internas. Nem a recente reunião do seu former group em maio, o Libertines, serviu para retirar o garoto do triste limbo dos rockstars com validade pré-definida. Ainda sim, ele é, provavelmente, a figura roqueira mais famosa projetada na atual década.

Ele é o roqueiro de nossa década. Todo mundo sabe que Thom Yorke é muito talentoso e etc, mas Thom sempre foi o rapaz de blusa de lã. Com seu figurino impecavelmente delineado (sempre), suas camisetas cuidadosamente perfuradas (herança de Sid Vicious, outra figura que também sabia se trajar) e o sempre providencial cigarrinho pela metade ocupando um dos cantos da boca, o ex-Libertines e atual Babyshamles se tornou um instantâneo sucesso entre a rapaziada dos blogs “rockers” e da proeminente cena alternativa do momento. Sua banda exercia o direito de chupinhar, com devidas restrições e algum talento, o som pioneiro dos grandes Clash e Jam. Mas, diferentemente dos rapazes presentes em seus pôsteres, Doherty nunca teve um London Calling ou um In The City para se ancorar, naquela velha filosofia do “sou drogado e beberrão, mas prolífico”.

Pete lançou dois álbuns com o Libertines, um em 2002 e um em 2004. O primeiro chegou ao 13º lugar da parada americana. Apenas o segundo alcançou o Top 5, estacionando em 4º naquela que é a corrida fonográfica que realmente importa caso você queira enriquecer, a estadunidense. Nenhum dos dois discos, contudo, serviu para alçar Doherty ou o seu parceiro Carl Barât à condição de ícones roqueiros. Barât, inclusive, é bem mais contido que o vocalista. O que alçou Doherty à condição de ícone da década (com grande ajuda do mundo virtual) foram as suas seguidas imposturas visuais. O garoto nunca deixou de fornecer oportunidades de ser fotografado em estados francamente lamentáveis, deixando pulular bem à vista à sua condição de adicto. Ou seja: os roqueiros de hoje não se notabilizam pelas gravações (ou você acha que Can’t Stand Me Now é um baluarte roqueiro?), mas sim pelo apreço à sarjeta e às bebedeiras televisionadas.

Os já mencionados Clash e Jam tinham ao menos meia dúzia de lançamentos em comum e são lembrados por tal. Kurt Cobain, apesar de algumas confusões, entorpecentes e súbitas aparições de cabelos avermelhados, tinha na manga um Nevermind, parte insubstituível daquela gama seleta de discos que sacudiram suas épocas.

Já o Pete... bem, o Pete se veste bem pra caralho.

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